Ser Síndico é …
21/10/2014 16:38
O Síndico é uma das figuras mais polêmicas em nossa sociedade. Acho que só perde para a figura caricata da sogra de programas humorísticos.
Mas creio que isso se deve à falta de conhecimento da real importância dessa atividade, muitas vezes realizada de forma gratuita e voluntária por parte de moradores bem intencionados que possuem características próprias para o cargo.
É óbvio que existem exceções, como, aliás, em todas as atividades humanas, podendo ser encontradas pessoas sem a menor condição técnica e pessoal para exercer o cargo. Mas isso podemos tratar em outro post.
Vamos avaliar juntos?
Depois de um dia estressante de trabalho, você chega ao condomínio onde mora, entra e recebe um cumprimento amistoso do porteiro. Estaciona seu veículo na garagem muito bem iluminada e sobe o elevador até o seu apartamento.
Como está calor, resolve descer até a piscina para encontrar os amigos e relaxar.
Você toma banho, faz churrasco, se diverte no salão de jogos, leva seus filhos no playground ou na brinquedoteca, se reúne com amigos no salão de festas, pratica esporte na academia ou na quadra.
Mas espera aí. Como é que isso tudo fica sempre funcionando direitinho para que você possa usar?
Bem, aí é que entra a figura do síndico.
Ele é a figura central para que tudo funcione para que você, sua família e seus vizinhos possam desfrutar de todo o conforto que seu condomínio lhe oferece.
Alguns poderão dizer, “ora, mas quem cuida de tudo é o zelador e a administradora”. Sim, eles também são peças importantes nessa relação. Mas o bom síndico conhece toda a rotina e obrigações legais de um condomínio. Afinal, de que adianta ter o zelador e a administradora se o síndico não souber o que fazer. O que poderá exigir deles?
Vimos, então, que o Síndico tem que se preocupar com os funcionários, com a manutenção do condomínio, com a água que você bebe ou com a água da piscina, com as condições de higiene das áreas comuns, além de vários problemas que ocorrem em condomínios, como brigas de casais, barulhos, animais, condôminos inadimplentes.
Isso só para falar nas questões comuns e que são visíveis aos moradores.
Imagem extraída de https://sosdoengenheirocivil.blogspot.com.br/p/laudo-de-pequenas-reformas-parte-2.html
Podemos citar ainda várias outras questões que quase nunca são percebidas pelos moradores: gestão de empregados, manutenção de portões, alarmes, vistoria do corpo de bombeiros, alvarás para elevadores, caixa d’água, jardins, reformas, mobiliário, tubulação, entrega de encomendas…. Ufa!
Mas, apesar de todo o trabalho que dá para gerir um condomínio, o síndico só houve reclamações e críticas. Principalmente quando as medidas por ele propostas ou adotadas tem como foco principal a segurança e comodidade dos moradores.
Algúem já disse que "segurança e conforto não se entendem". E basta o síndico adotar uma medida que, em nome da segurança, tire o conforto do morador, já será motivo de crítica.
Exemplo disso é quando se proíbe que a portaria receba encomendas dos moradores. Há uma chiadeira geral, pois ao invés de se conscientizar que a portaria deve ter como prioridade a segurança geral, o morador reclama porque terá “que descer para receber sua televisão de 42′ comprada pela internet” ou “não tem como receber sua geladeira nova porque trabalha o dia inteiro”. Ora, essas são questões pessoais de cada um que não tem nenhuma relação com o condomínio ou com a segurança do todo que o Síndico deverá preservar.
Aliás, esse mesmo morador que reclama do síndico porque não pode receber sua encomenda na portaria, interfona tarde da noite para a casa do síndico para pedir que ele abone a multa porque ele esqueceu de pagar o boleto do condomínio ontem ou quer saber se pode reservar a churrasqueira no sábado.
Infelizmente o que se vê em condomínios é a prática do mais puro egoísmo humano, cada um olhando o seu próprio umbigo sem se preocupar em colaborar com a necessidade de seu vizinho ou da coletividade. E faz isso na varanda de seu apartamento enquanto fuma seu cigarro que depois irá jogar pela janela, sem pensar que embaixo poderá estar uma criança.
Apesar das divagações filosóficas, todas essas questões fazem parte do dia a dia de qualquer síndico, mesmo para aqueles que trabalham “apenas” pela isenção da cota condominial.
E para quem não sabe o síndico, mesmo que não receba nada, mas que tenha essa isenção deve declarar esse valor em sua declaração do imposto de renda e pagar INSS sobre esse valor. Ou seja, não recebe e ainda pode ser onerado.
Tente, então, praticar uma empatia colocando-se no lugar do síndico da próxima vez que pegar o interfone para reclamar daquele comunicado que você recebeu e não gostou só pelo fato de lhe tirar de sua zona de conforto. Olhe pela janela e veja que aquela decisão foi pensada na coletividade, muitas vezes contrariando até mesmo a vontade pessoal do próprio síndico.
E da próxima vez que encontrar o síndico no elevador ou na piscina, ao invés de tirar-lhe o momento de lazer, agradeça-o por ele utilizar seu tempo livre para se preocupar com a segurança, a saúde e o conforto de sua família.
Obrigado pelos seus minutos de atenção ao meu texto.
(Texto elaborado por Marcelo Claudio do Carmo Duarte, Advogado e Gestor Condominial)